Para a psicologia analítica, de Jung, o ego é o centro da nossa consciência. Como, então, poderia ser negativo o ego, sendo o centro da nossa consciência? Essa parte pensante, cognitiva, que nos faz compreender o mundo ao nosso redor e nós mesmos.
De fato, a nossa consciência nos dá a direção que devemos seguir, a fim de atingir nossos objetivos, de viver o dia a dia de acordo com aquilo que esperamos de nós mesmos, embora nem sempre ocorra assim. Mas ela ilumina nossa jornada pela vida.
A perspectiva social de ego é outra, entretanto. Geralmente vinculada a algo negativo, o ego tem entonação de egoísmo, característica de um ser autocentrado, que faz tudo de acordo com as próprias vontades e necessidades, a despeito do outro ou do coletivo. É o que se aproxima do entendimento sobre uma pessoa narcisista, aquele que se utiliza do outro para atingir os próprios fins, enxergando apenas a si mesmo.
A influência religiosa soma nessa perspectiva do que é o ego. A visão ocidental, cristã, por exemplo, entende a atitude egóica como pecado e prega que devemos ser caridosos e generosos. A visão oriental, de forma semelhante, traz ao conceito de ego uma contraposição aos interesses coletivos. Mas também agrega mais conceitos.
A visão espiritualista oriental aponta para a dissolução do ego como caminho para a transcendência. Nesse caso, o ego engloba tudo aquilo com que nos identificamos, que “grudamos” em nós como sendo nós ou nosso, como ideias, sujeitos, gostos e desgostos, emoções, pensamentos. Apegos. Enfim, tudo o que dá mais solidez às nossas características e que reforça a nossa noção de identidade.
Mas nossa identidade responde à pergunta “quem realmente somos?”? Profissão, idade, estado civil, gostos, posições políticas, tudo isso é mutável. Por isso, na perspectiva oriental, devemos ir além de tudo isso e chegar na nossa essência. Em outras palavras, devemos ir além do nosso ego e chegar no nosso Self.
Portanto, a depender da perspectiva, o conceito “ego” recebe valorações distintas. Mas para a psicologia, em geral, é importante ter um ego forte e bem estruturado, o que não significa rigidez, mas fluidez e firmeza frente aos diversos conflitos da vida. O fortalecimento do ego é um trabalho da psicoterapia.
Para além disso, Jung fala do fortalecimento do eixo ego-self, o que significa dizer que importa no trabalho psicoterapêutico ajudar o indivíduo a conectar o centro de sua consciência com sua nossa essência, o Self, o maestro do seu concerto psíquico. Significa dizer que a abordagem da psicoterapia analítica é profunda e transcendente.
Para quem se afina com a proposta, a psicoterapia analítica de Jung oferece uma análise mais profunda de si, para além do ego, mas considerando-o um aliado em seu caminho de desenvolvimento.
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